Senado volta a discutir possibilidade de redução da jornada de trabalho
A redução da jornada de trabalho, que envolve a extinção da escala 6×1, ainda é uma pauta quente que está sendo analisada pelo Senado
A rotina de quem trabalha no regime 6×1 é marcada por longas horas de esforço e pouco tempo de descanso. Milhares de brasileiros enfrentam jornadas intensas, com apenas um dia livre por semana, o que gera cansaço, estresse e compromete a qualidade de vida.
Essa realidade afeta diretamente o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, dificultando o convívio familiar e o tempo dedicado ao lazer. Além disso, o excesso de horas trabalhadas pode reduzir a produtividade e aumentar os riscos de doenças ocupacionais.
Em meio a esse cenário, cresce o debate sobre a necessidade de revisar o modelo atual, propondo alternativas que tornem o trabalho mais humano e sustentável, sem comprometer o desempenho das empresas e a economia nacional.

Neste artigo, você vai ver:
Proposta de redução da jornada de trabalho ainda é pauta
A discussão sobre a redução da jornada de trabalho voltou ao centro das atenções no Congresso Nacional. A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 148/2015, de autoria do então senador Paulo Paim, sugere diminuir a carga semanal de 44 para 40 horas, sem redução salarial.
O texto está em análise na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado e deve passar por audiências públicas que reunirão representantes do governo, sindicatos e empresários antes de ser levado ao plenário.
A iniciativa busca atualizar a legislação trabalhista diante das novas dinâmicas de produção e dos avanços tecnológicos que transformaram o mercado de trabalho nas últimas décadas. Embora a proposta conte com o apoio de sindicatos e parte da sociedade, setores empresariais demonstram preocupação.
Argumenta-se que a redução da jornada pode elevar custos trabalhistas e exigir reorganização das operações, especialmente em setores dependentes de mão de obra, como indústria, comércio e construção civil.
Apesar disso, defensores da proposta afirmam que o aumento da eficiência e a geração de novos empregos podem compensar esses desafios, fortalecendo o mercado interno e ampliando o consumo. Assim, o debate sobre o equilíbrio entre produtividade e bem-estar se torna central na discussão.
De acordo com estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), a diminuição de 44 para 40 horas semanais poderia criar até 3,6 milhões de novas vagas formais, movimentando R$ 9,2 bilhões em massa salarial.
O mesmo levantamento indica que uma jornada de 36 horas teria potencial de gerar 8,8 milhões de empregos, além de impulsionar a arrecadação de impostos e o consumo interno. Esses números reforçam que a redução da jornada pode trazer benefícios econômicos significativos.
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Benefícios da redução da jornada de trabalho
Os impactos positivos de uma jornada menor vão além da criação de empregos. Segundo pesquisas recentes do DataSenado, 54% dos brasileiros acreditam que uma redução nas horas trabalhadas aumentaria a qualidade de vida, enquanto 51% veem a medida como benéfica para o país.
Além disso, 85% dos trabalhadores afirmaram que teriam mais equilíbrio e tempo para atividades pessoais caso tivessem um dia livre a mais por semana. Esses dados evidenciam o desejo da população por um modelo de trabalho que valorize tanto a produtividade quanto o bem-estar.
Estudos de caso reforçam essa visão. O projeto “Semana de 4 Dias”, coordenado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) em 2024, envolveu 19 empresas e 243 trabalhadores, reduzindo a jornada média de 43 para 35 horas semanais.
O resultado mostrou manutenção da produtividade e queda significativa nos índices de ansiedade e insônia. Essa experiência demonstra que é possível alcançar eficiência e qualidade sem exigir longas jornadas. Além disso, a redução do tempo de trabalho favorece a motivação dos colaboradores.
Outro ponto importante é o histórico positivo de ajustes anteriores. A Constituição de 1988 já havia reduzido a jornada de 48 para 44 horas semanais, e, segundo o DIEESE, a medida não causou desemprego. Pelo contrário, resultou em aumento do salário-hora entre 8,8% e 16,7%.
Atualmente, o Brasil ainda possui uma das maiores cargas de trabalho da América Latina, com 44 horas semanais, superando países como Colômbia, com 42 horas, e Chile, que está implementando redução gradual para 40 horas até 2028.
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O que falta para aprovação do projeto?
A PEC 148/2015 ainda precisa avançar na Comissão de Constituição e Justiça antes de chegar ao plenário do Senado. O processo envolve debates públicos com especialistas, sindicatos, federações da indústria e representantes do governo.
Essas audiências têm o papel de equilibrar interesses e definir o formato final da proposta, garantindo que ela seja economicamente viável e socialmente justa. Caso seja aprovada na CCJ, a PEC seguirá para votação no plenário, onde precisará de três quintos dos votos favoráveis dos senadores em dois turnos.
Enquanto o texto avança, as opiniões permanecem divididas. Federações patronais, como a Federação das Indústrias de Minas Gerais (FIEMG), alertam que a redução sem ajuste de remuneração pode pressionar margens de lucro e reduzir contratações.
Já os defensores argumentam que a medida tende a aumentar a produtividade e impulsionar a economia, especialmente em setores como serviços, turismo e varejo, que poderiam se beneficiar da ampliação da demanda interna.
Apesar dos desafios, a tendência mundial aponta para jornadas mais curtas e equilibradas. Países como França e Portugal já adotam cargas horárias menores, variando entre 35 e 40 horas semanais. O debate brasileiro segue essa direção, buscando um modelo que garanta qualidade de vida e gere empregos.
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