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Aposentadoria rural vai mudar? Ministro da Previdência apoia alterações

A aposentadoria rural possui regras próprias para atender demandas específicas dos trabalhadores da área, mas pode sofrer alterações.

A aposentadoria rural garante um amparo essencial para milhões de brasileiros que dedicam suas vidas ao trabalho no campo, muitas vezes em condições difíceis e sem acesso a proteção formal. Ela é voltada principalmente a agricultores familiares, pescadores artesanais, indígenas e extrativistas.

Essa modalidade reconhece as particularidades da atividade rural e assegura um benefício previdenciário mesmo a quem contribuiu pouco ou nada ao INSS. A Constituição Federal garante esse direito por meio de regras diferenciadas, que incluem idade mínima menor e critérios específicos de comprovação.

Apesar da importância social, esse benefício gera debates intensos por representar uma parcela significativa dos gastos da Previdência Social. Com esse cenário, a aposentadoria rural passou a integrar as discussões sobre a sustentabilidade do sistema.

Quem vai receber a aposentadoria deve tomar cuidado com as novas regras.
Quem vai receber a aposentadoria deve tomar cuidado com as novas regras. / Crédito: @jeanedeoliveirafotografia / guiadobeneficio.com.br

Ministro da Previdência apoia mudanças na aposentadoria rural

Em entrevista concedida ao UOL, o ministro da Previdência, Wolney Queiroz (PDT), defendeu uma reestruturação na forma como o governo lida com a aposentadoria rural. Segundo ele, os gastos com esse benefício superam amplamente a arrecadação feita junto aos trabalhadores rurais.

Em 2024, enquanto a arrecadação da categoria ficou em R$ 9,9 bilhões, os gastos com aposentadorias rurais ultrapassaram R$ 191 bilhões. Diante dessa diferença expressiva, o ministro propõe realocar o benefício para a rubrica da assistência social, sem retirá-lo dos beneficiários.

Wolney destacou que a Constituição determina que o Estado deve proteger esses trabalhadores, reconhecendo a fragilidade econômica de parte significativa da população rural. A proposta, portanto, não busca eliminar o benefício, mas transferir sua natureza orçamentária.

Essa mudança traria mais transparência às contas públicas, separando claramente o que é de fato previdência, baseada em contribuições, e o que constitui assistência social, custeada inteiramente pela União. Na prática, os valores continuariam a ser pagos, mas sob uma nova classificação contábil.

Apesar do posicionamento firme, o ministro afirmou que essa discussão só deve avançar após o período eleitoral. Com as eleições presidenciais previstas para 2026, ele acredita que o debate sobre uma nova reforma da Previdência deve começar apenas em 2027.

Segundo Wolney, a aposentadoria rural será um dos primeiros pontos da agenda quando o próximo governo iniciar, pois trata-se de uma questão urgente e estruturante. Enquanto isso, ele defende a continuidade dos pagamentos e o respeito aos direitos adquiridos.

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Por que mudanças são importantes?

A disparidade entre o valor arrecadado com contribuições de trabalhadores rurais e os gastos com seus benefícios aponta para uma fragilidade estrutural no modelo atual. A Previdência Social, originalmente baseada em contribuição, não sustenta um regime que paga benefícios para quem não contribui.

A aposentadoria rural, nesse cenário, assemelha-se mais a uma política assistencial do que previdenciária, o que gera distorções contábeis e dificulta o planejamento orçamentário. Realocar essa despesa para o orçamento da assistência social permitiria maior clareza na divisão dos gastos públicos.

Além disso, o ministro destacou que a medida traria mais coerência às contas públicas, facilitando o entendimento do tamanho real da Previdência. Atualmente, a inclusão da aposentadoria rural no orçamento previdenciário infla os números e dificulta a comparação com outros sistemas internacionais.

Ao separar o que é contribuição direta do que é obrigação social do Estado, o governo passa a ter uma base mais sólida para avaliar a sustentabilidade do regime. Essa distinção também fortalece o discurso fiscal, um ponto de atenção para investidores e agências de classificação de risco.

Outro fator que reforça a necessidade de mudança é a pressão crescente por responsabilidade fiscal. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem enfatizado a importância de conter os gastos públicos e apontou o Benefício de Prestação Continuada (BPC) como foco de decisões judiciais e despesas.

Nesse contexto, a aposentadoria rural entra no radar como outro item de alto impacto orçamentário. A proposta de transferi-la para a assistência social alinha-se à necessidade de controle dos gastos sem retirar direitos. Assim, o governo busca equilibrar justiça social com eficiência fiscal.

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Como funciona a aposentadoria rural atualmente?

A aposentadoria rural é concedida com critérios mais flexíveis do que os exigidos na aposentadoria urbana. Trabalhadores do campo podem se aposentar com 60 anos, no caso dos homens, e 55 anos, no caso das mulheres.

Além da idade mínima, é necessário comprovar 15 anos de atividade rural, mas o regime dispensa contribuições mensais para os segurados especiais, que trabalham de forma individual ou em regime de economia familiar.

Para comprovar o exercício da atividade rural, o trabalhador deve apresentar documentos como contratos de arrendamento, notas fiscais de venda da produção, registros em sindicatos ou declarações de órgãos públicos. Essa documentação substitui as contribuições e comprova ligação com o trabalho no campo.

Apesar da simplificação, a análise pode levar tempo, e o indeferimento de pedidos por falta de provas adequadas é comum. A exigência de comprovação ainda gera obstáculos para comunidades mais isoladas, que nem sempre possuem documentação formalizada.

Atualmente, o valor pago na aposentadoria rural corresponde a um salário mínimo. O benefício garante segurança financeira para quem vive da agricultura de subsistência e não tem acesso a outra renda. Além disso, o segurado pode receber auxílio-doença, pensão por morte ou salário-maternidade.

Essa estrutura assegura proteção social a milhões de pessoas em situação de vulnerabilidade. No entanto, o modelo, embora eficiente no combate à pobreza rural, exige revisão diante do impacto fiscal crescente e da necessidade de maior transparência na estrutura do INSS.

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Nicole Ribeiro

Graduanda em Jornalismo na pela Universidade do Estado de Minas Gerais, formada em Letras - Português também pela UEMG. Redatora freelancer e revisora de artigos e textos acadêmicos. Apaixonada por gatos e pelo conhecimento.

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