Governo defende direitos do trabalhador para motoristas de app
Os motoristas de app podem estar cada vez mais perto de conquistar direitos trabalhistas assim como os demais trabalhadores.
A discussão sobre os direitos do trabalhador ocupa espaço central nas transformações sociais e econômicas do Brasil. À medida que novas formas de trabalho surgem, também se tornam necessárias adaptações legais capazes de acompanhar essa realidade.
A Consolidação das Leis do Trabalho garantiu conquistas históricas para empregados formais, mas a economia digital trouxe modelos que fogem ao padrão tradicional. Entre eles, o trabalho intermediado por aplicativos se destaca pela rapidez do crescimento e pela relevância para milhões de famílias.
Entretanto, embora essa modalidade proporcione flexibilidade e novas oportunidades, também levanta debates sobre a ausência de garantias mínimas. Nesse cenário, cresce a necessidade de discutir como oferecer proteção jurídica e social sem sufocar a inovação que caracteriza esse setor.

Neste artigo, você vai ver:
Governo defende direitos trabalhistas dos motoristas de app
O advogado-geral da União, Jorge Messias, levou ao Supremo Tribunal Federal um posicionamento que busca equilibrar a autonomia do modelo digital com a proteção ao trabalhador. Segundo ele, os motoristas de app não se enquadram nos moldes tradicionais de empregado e empregador.
Contudo, isso não elimina a necessidade de oferecer direitos básicos. A proposta do governo defende a ideia de “autonomia com direitos”, garantindo ao trabalhador condições mínimas de segurança, remuneração e dignidade.
Além disso, Messias destacou dados do Ministério do Trabalho que revelam a dimensão do problema. Em 2022, o país contava com cerca de 1,5 milhão de pessoas que atuavam em plataformas digitais, mas apenas 23,6% contribuíam para a Previdência Social.
Essa realidade evidencia não apenas a falta de proteção previdenciária, mas também a sobrecarga de jornadas que ultrapassavam, em média, 47,9 horas semanais. Diante disso, o governo defende regras que garantam recolhimento de contribuições, seguro de vida, proteção contra invalidez e sindicalismo.
Outro ponto apresentado foi a necessidade de regulamentar tarifas e remunerações, estabelecendo um piso salarial reajustado com base na política nacional do salário mínimo. O governo sugere ainda limites de horas de conexão às plataformas, incentivo à formação profissional e espaços de descanso.
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O que está em jogo?
O julgamento em curso no Supremo Tribunal Federal vai muito além do caso individual que deu origem ao processo. A decisão terá repercussão geral, ou seja, valerá para todas as ações semelhantes no país e definirá se existe ou não vínculo de emprego entre motoristas de app e plataformas como Uber.
A ação analisada começou com um motorista que trabalhou entre 2018 e 2019 e obteve, em instâncias anteriores da Justiça do Trabalho, o reconhecimento do vínculo empregatício. Essa decisão lhe assegurou carteira assinada, FGTS, 13º salário e multa pela rescisão contratual.
As plataformas defendem que o modelo não deve ser regido pela Consolidação das Leis do Trabalho. Segundo elas, não existe subordinação direta, já que o motorista escolhe seus horários e decide quando se conectar.
Nesse sentido, a relação seria de prestação de serviço autônomo e não de emprego formal. Essa argumentação reforça o risco de que, se reconhecido o vínculo, a estrutura de funcionamento dos aplicativos sofra impactos relevantes, incluindo aumento de custos operacionais.
Do outro lado, sindicatos e entidades representativas alertam para a precarização crescente. Eles argumentam que, embora exista autonomia aparente, motoristas e entregadores estão submetidos às regras de funcionamento do aplicativo, que controla tarifas e avalia desempenho.
Isso gera dependência econômica e vulnerabilidade, aspectos que justificariam a aplicação de direitos trabalhistas básicos. O que está em jogo, portanto, é a definição de um marco regulatório capaz de equilibrar inovação e proteção social.
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O que ainda falta discutir sobre os direitos dos motoristas de app?
Mesmo com avanços nas propostas do governo e na análise pelo STF, o debate sobre os direitos dos motoristas de app está longe de se encerrar. Um dos pontos que ainda exige atenção é a sustentabilidade econômica do setor.
É necessário pensar em como impor obrigações trabalhistas sem inviabilizar o modelo de negócio que, além de gerar renda para milhões de pessoas, também atende à demanda crescente por transporte e entregas. Assim, será fundamental criar regras que não desestimulem a inovação e o empreendedorismo.
Outro aspecto que precisa ser discutido envolve a representação coletiva. A proposta de permitir sindicatos e negociações coletivas abre espaço para maior equilíbrio entre plataformas e trabalhadores, já que os trabalhadores sabem de suas próprias necessidades.
Contudo, ainda restam dúvidas sobre como esses sindicatos serão organizados, quem terá legitimidade para negociar e como assegurar que motoristas espalhados por todo o país possam participar ativamente desse processo.
Por fim, a discussão precisa incluir a perspectiva de longo prazo. A economia digital continuará a se expandir e novas formas de trabalho devem surgir. Se hoje o debate envolve motoristas de app, amanhã poderá abranger outros segmentos.
Portanto, é essencial que o marco regulatório seja construído com flexibilidade, de forma a acompanhar transformações tecnológicas sem deixar trabalhadores desprotegidos. O desafio é criar um sistema que ofereça segurança jurídica, promova justiça social e mantenha o ambiente favorável a todos.
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